terça-feira, 9 de abril de 2013

A falta que ela me faz: O encontro com Sabino e o prazer de ler



Fernando Sabino é um escritor importante na minha formação como leitora. Na minha adolescência li livros de contos e crônicas do escritor mineiro como A falta que ela me faz e O homem nu. Eles me ajudaram a descobrir o prazer da leitura. A famosa e engraçada história do homem que fica nu na porta do apartamento por uma série de imprevistos na hora de pegar o pão é marcante no meu repertório de leituras.
            Procurei A falta que ela me faz, primeiro livro do escritor mineiro que li, e não o encontrei no escritório de meu pai. Vendo que eu estava triste, minha acompanhante teve a ideia de procurar na minha estante e o encontrou escondido ao lado do romance O encontro marcado.
            Precisando ler textos mais leves e engraçados, reli o livro e vou fazer alguns comentários sobre os temas abordados por Sabino nas narrativas que o compõem.
            Usando muito humor e uma linguagem coloquial, Sabino diverte e surpreende o leitor com as histórias sobre a empregada que gosta de ver TV, o menino que apronta todas com a mãe (no irônico texto “O filho da mãe” ), as pessoas que falam sozinhas, as confusões de um homem que viaja para São Paulo, um assalto cujo fim é inesperado, a falta que faz uma mulher, um gato em Paris, a dificuldade de parar de fumar, problemas de esquecimento e distração, a mulher que quer perder a virgindade, as confusões em um supermercado e muitas outras narrativas extraídas do cotidiano como a divertida “De como me tornei um general”.
            Como todo bom escritor, Sabino também usa a metalinguagem. Fala da língua portuguesa e critica quem usa uma linguagem complicada, faz jogos de palavras. Na crônica “O estranho ofício de escrever”, o escritor mineiro fala da própria atividade de cronista, citando os amigos e especialistas no gênero como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, discute a definição de crônica citando a celebre frase de Mário de Andrade sobre o conto (“conto é aquilo que eu chamar de conto”) e debate a fronteira entre conto e crônica.
            Sabino também trata de objetos que hoje são obsoletos como uma vitrola e uma máquina de escrever elétrica. No segundo caso, escreve uma belíssima crônica “Sob a carícia de meus dedos” ao comparar a maquina nova com que tem dificuldade de lidar a uma mulher em um momento do livro em que o autor vai do cômico ao poético.
            Sabino ainda trata de problemas sociais como os meninos de rua na lúcida e sensível crônica “Protesto tímido”, a falta de dinheiro e a inflação, flagelo que assolava o país na década de 80 quando o livro foi escrito, e infelizmente ameaça voltar a assombrar os brasileiros.
            Foi com esse livro que comecei a ter prazer em ler literatura brasileira e serei eternamente grata a Sabino por poder ler seus textos engraçados e irônicos e que estão me ajudando a me sentir feliz de novo.

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