terça-feira, 23 de abril de 2013

Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais


Hoje é o Dia Mundial do Livro. Esse texto é uma reflexão sobre a importância do livro e da leitura.
          O livro é essencial na minha vida e na minha formação. Adoro literatura e não consigo imaginar um mundo sem livros. Que graça teria minha vida se não tivesse lido Ziraldo, Fernando Sabino, Jorge Amado, Zélia Gattai, Machado de Assis, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Érico Veríssimo, Castro Alves, Mário de Andrade, Fernando Pessoa, Drummond, Bandeira, Vinícius de Moraes, Adélia Prado, João Cabral de Melo Neto, Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Clarice Lispector, Milton Hatoum, Moacyr Scliar, Luís Fernando Veríssimo, Marina Colasanti, Ana Maria Machado, Borges, Homero, Sófocles, Skakespeare, Flaubert, Henry James, Dostoévski, Tchekhov, Hemingway, Agatha Christie, Calvino, Luís Ruffato, Rubem Fonseca, Sérgio Sant’Anna ,Tatiana Salem Levy, João Gilberto Noll, Daniel Galera e tantos outros grandes nomes da literatura brasileira e mundial?
          A leitura de literatura me dá espírito crítico, me faz refletir , me choca, me encanta e me dá prazer. Ler é essencial cabe a cada um descobrir os autores e gêneros de que mais gosta: romance, conto, crônica, policial, poesia, ensaio, biografia, não ficção... O importante é que a leitura não seja uma obrigação e sim fonte de prazer, fazendo o leitor interagir com o texto, ampliar seus horizontes, se emocionar , mudar sua visão de mundo e crescer,
          Para isso, é necessário ler para as crianças desde cedo e deixa-las ler livremente sem pressão e sem obrigação e cobrança, dando-lhes a chance de escolher o que e quando ler e se possível diversificar os tipos de texto oferecidos.
          O problema é que na escola muitas vezes essa leitura não é livre e cobra-se a leitura do livro com provas que tornam a leitura uma obrigação. Por que não simplesmente discutir o livro em sala fazendo o aluno refletir e descobrir o prazer da leitura? Por que não estimular o professor a ler literatura e incutir nos alunos o gosto pelos livros, como defende Ana Maria Machado?
Por que não melhorar as bibliotecas preservando seus acervos e tornando-as mais atraentes, numerosas e organizadas e bem localizadas? É obrigação do governo e da sociedade garantir a preservação desse patrimônio cultural que é a literatura e garantir o acesso de todos aos textos dos grandes autores da literatura brasileira e mundial, como também argumenta Ana Maria Machado em muitos dos seus ensaios sobre a leitura como, por exemplo, no livro Silenciosa Algazzarra.
Ainda estou me familiarizando com o livro eletrônico e espero que ele e o livro em papel ainda convivam por um bom tempo. Leio bem na tela textos mais curtos como contos e novelas, mas ainda não consegui ler um romance no computador. Mesmo assim acredito que a internet seja uma ferramenta importante para a expansão do acesso ao conhecimento e à literatura desde que se recorra a sites confiáveis como o brasileiro e excelente Projeto Releituras (www.releituras.com) e o Project Guttemberg (http://www.gutenberg.org/), que oferece livros grátis em inglês.
Convido todos a ler e aproveitar os benefícios que a leitura pode proporcionar. Só assim as pessoas terão mais prazer, espírito crítico e mais inteligência. Descubra o gênero ou autor que mais lhe agrada e leia. Sem medo. Sem amarras. Emocione-se, pense e se transporte para outro mundo, interaja com o texto , tenha prazer. Essa é a magia da leitura e da literatura.

domingo, 21 de abril de 2013

Parabéns, Andrade

Hoje é o aniversário de um jogador e técnico muito importante na história rubro-negra: Andrade. 
Nascido no dia 21/4/1957, Andrade foi tetracampeão brasileiro (1980,1982, 1983,1987), campeão carioca , sul-americano e mundial (1981) pelo Flamengo. Volante de muita técnica, Andrade fez parte do mítico meio-campo do time fantástico da década de 80, junto com Zico e Adílio e marcou um gol antológico  na goleada de 6 a 0 no Botafogo no campeonato carioca de 1981. Conquistou ainda um titulo brasileiro pelo Vasco em 1989.
Como técnico, Andrade soube levar um time desacreditado a uma arrancada espetacular e comandar um time que contou com o talento de Léo Moura, Ronaldo Angelim, Petkovic e Adriano na bela e emocionante conquista do Hexacampeonato Brasileiro de 2009.
Só lamento que Andrade tenha sido tão desrespeitado pela Patrícia Amorim. 
Andrade, saiba que a Nação é grata por tudo que você fez pelo Mengão!!! Parabéns, muita saúde e tudo de bom!

Flamengo e Macaé

Pelo menos o Flamengo se despediu com vitória do Carioca ao cumprir tabela contra o Macaé.
 Jogando com um time misto, mas uma vez apresentou problemas na zaga. Frauches falhou e o Macaé fez um a zero logo no início do primeiro tempo. 
O Mengão jogou melhor no segundo tempo e virou o jogo. Hernane empatou depois de um bate-rebate na área. No segundo gol, Adryan deu uma matada linda na bola, o goleiro do Macaé  defendeu e, na sobra, Nixon virou o jogo. Luís Antonio, um dos melhores em campo, deu passe para Hernane. O goleiro não conseguiu defender e a o bola entrou: 3 a 1. 
Gosto do Adryan, mas acho que ele podia ter participado mais do jogo. Luís Antonio jogou bem  no meio assim como Rodolfo e Nixon aproveitou a chance dada por Jorginho. Digão teve atuação razoável, mas precisa aprender a cruzar melhor para ser reserva do Léo Moura e o Jorginho pode tentar ensiná-lo a fazer isso, pois cruzava muito bem na época de jogador
O Flamengo precisa lapidar essa meninada boa: Adryan, Rodolfo, Nixon e Rafinha, por exemplo, contratar reforços (um zagueiro, um meia , um lateral direito e um atacante) e se preparar para o jogo contra o Campinense pela Copa do Brasil e para o Campeonato Brasileiro. Tomara que o segundo semestre de 2013 seja melhor que o primeiro.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Continuação da homenagem a Lygia Fagundes Telles


Parte 2- Invenção e memória

Outro livro de contos de Lygia muito interessante é Invenção e memória. Nessa obra, usando a primeira pessoa, a escritora paulista trabalha a fronteira entre realidade, ficção e memória para tecer narrativas que, na maioria das vezes, enveredam pelo fantástico e pelo sobrenatural. Vou fazer comentários breves sobre alguns contos desse livro.
Na primeira narrativa, “Que se chama solidão” a narradora recorda as pajens que lhe contavam histórias de terror quando criança e que lhe inspiraram o gosto pelo gênero fantástico tão marcante na obra de Lygia.
No curioso “Suicídio na granja”, o leitor se depara com a bela amizade entre um galo e um ganso, num conto diferente sobre o tema do suicídio.
Na linda narrativa “Dança com o anjo”, a estudante de direito dança com um belo rapaz louro que a protege numa festa, mas não fica claro se a dança realmente aconteceu ou se tudo não passou de imaginação da narradora num momento lírico do livro, que encanta e surpreende o leitor.
Em “Cinema Gato Preto”, Lygia relembra a experiência de ver filmes de vampiro da era do cinema mudo num cinema do interior e analisa criticamente os filmes do gênero.
A figura do vampiro reaparece num dos mais belos e intrigantes contos do livro. Em “Potyra”, um estranho vampiro europeu conta a uma jovem sua vida agitada e fala de seu amor pela índia Potyra numa história criativa e fantástica em que Lygia trata de temas como o amor, a colonização da América, a violência.
No conto “Heffman”, Lygia relembra a livraria Jaraguá em São Paulo e se revela leitora de Faulkner, Dostoievsky e Jane Austen. A narradora do conto também fala de sua experiência no teatro amador numa narrativa bem interessante.
O mundo literário e o cinema  também entram em cena no conto “Rua Sabará, 400” em que Lygia trata da ambiguidade de Dom Casmurro ao adaptar o romance de Machado para o cinema com o marido e cineasta Paulo Emílio Salles.  A discussão sobre o enigma de Capitu e as memórias do convívio feliz com o segundo marido constroem uma deliciosa narrativa de tom familiar.
Em “Se és capaz”, Lygia dialoga com Kipling num conto em que o narrador ganha o poema “If ”do avô , mas sua em sua vida de político não consegue se portar com a virtude e coragem expressas pelo eu lírico do poema do escritor inglês. Nessa narrativa, que me fez conhecer a obra de Kipling, a escritora paulista aborda com ironia, amargura e  humor temas como a virtude, a corrupção, o casamento e a velhice.
Em outros contos como “O menino e o velho”, Lygia se aproxima do cotidiano ao narrar a história de um senhor que ajuda um menino de rua num conto de desfecho trágico.
Na narrativa “Dia de dizer não”, o cotidiano de São Paulo e suas mazelas como acidentes de transito e pedintes é rememorado num conto de crítica social e em que a autora paulista dialoga com Santo Agostinho.
No conto “A chave na porta”, a narradora consegue a carona de um amigo na noite de Natal num conto muito bem construído em que realidade e imaginação se misturam e o final da narrativa intriga o leitor.
É exatamente essa capacidade de entrelaçar ficção, imaginação e memória seja indo beber nas águas do fantástico, da literatura e do cotidiano com seu estilo inconfundível que mostra a maturidade da autora de As meninas e faz de Lygia Fagundes Telles uma das maiores escritoras da literatura brasileira.

Homenagem a Lygia Fagundes Telles


            

Parte I : Antes do baile verde

Hoje a grande escritora Lygia Fagundes Telles faz 90 anos e não podia deixar de homenageá-la aqui no meu blog. Lygia tem romances memoráveis como Ciranda de pedra, Verão no aquário e As meninas.
            Comecei a ler a obra da escritora paulista pelos contos e meu livro preferido de Lygia é Antes do baile verde.
Já no primeiro conto desse livro chamado “Os objetos” aparecem o tema do amor e do ciúme e o final enigmático que caracterizam outras narrativas da coletânea. Os delírios e a insegurança do marido em relação aos sentimentos da esposa e levam o leitor a se perguntar será que ele vai simplesmente sair para comprar biscoitos ou vai se matar com a adaga comprada pelo casal? Para mim, não passa de blefe do homem, mas cabe a cada leitor dar a sua interpretação a esse conto de final aberto.
Na segunda narrativa, “Verde, lagarto, amarelo”, a trama gira em torno do escritor e leitor de Dostoievsky Rodolfo e a rivalidade deste com o irmão Eduardo num conto de final genial.
O terceiro conto, “Apenas um saxofone”, uma história sobre amor e perda, cuja protagonista é uma mulher rica, mas infeliz que troca de nome e  só queria ouvir de novo seu grande amor tocar saxofone.
O instrumento volta a aparecer em “O moço do saxofone”, um dos meus contos preferidos de Lygia, uma narrativa de amor, traição e música que se passa numa insólita pensão cheia de anões, que surpreende o leitor.
Em “Helga”, a protagonista usa uma perna mecânica e na narrativa Lygia trata do lado cruel e ambicioso  no ser humano.
No conto que dá  título ao livro, “Antes do baile verde”, a protagonista se prepara para ir ao baile de carnaval mesmo com o pai moribundo.
O conto “Caçada” me parece servir de exemplo de conto cujo fim pode ter várias interpretações, deixando dúvidas no leitor. O personagem do conto de Lygia fica fascinado por uma velha tapeçaria que retrata uma caçada. Como o leitor de um texto literário que se imagina no mundo ficcional criado pelo escritor, o homem se vê dentro da “tela”. Ao fim da narrativa deixa-se no ar que o homem foi atingido pela seta que ele vê na tapeçaria. Seria apenas imaginação do homem? Ou será que dentro do jogo ficcional e fantástico proposto por Lygia o homem se incorpora à tapeçaria que tanto o obceca e vira objeto de “caça”? Por que tal obra, mesmo quase aos pedaços, o encanta e ao mesmo tempo o perturba tanto? Como leitora, respondo afirmativamente à segunda pergunta, mas essa não me parece (e nem pode) ser a única leitura da bela narrativa de Lygia.
Na narrativa “A chave”, que trata de um relacionamento desgastado entre pessoas de idades diferentes, o final também me parece ambíguo: Thomas , insatisfeito com o casamento com uma mulher fútil, volta para a ex-mulher ou sonha que o fez?
No conto seguinte, “Meia-noite em ponto em Xangai” a protagonista é uma cantora lírica que tem preconceito com empregado chinês, numa narrativa cheia de mistério e tensão no fim, fazendo o leitor prender a respiração.
O mistério — marca de muitos contos de Lygia — também é predominante no conto “O jardim selvagem” com a figura enigmática e ambígua da cruel Daniela intrigando o leitor.
O conto “A janela” é construído com base nas lembranças e delírios de um homem que perdeu o filho. As belas descrições da roseira que encantava o rapaz morto suavizam o clima de tensão da narrativa.
No conto “Um chá bem forte e três xícaras”, a linda descrição de uma borboleta encanta o leitor com a narração de os preparativos para um chá.
No magistral “Natal na barca”, meu conto preferido de Lygia, a narradora viaja com um velho e a mãe de uma criança, que pode ser comparada a uma santa como Nossa Senhora por suportar as tragédias da vida. A atmosfera soturna e tensa da narrativa é oposta à alegria das celebrações de Natal e o final, inesperado.
No conto “A ceia”, o tema é o ciúme de mulher inconformada com a separação.
O ciúme também move a trama de “Venha ver o pôr do sol”. Dando um título romântico ao conto a autora subverte as expectativas do leitor com final aterrorizante.
Outro conto que tem como tema o ciúme é “As pérolas”, mas nessa narrativa o marido doente e enciumado é mais sutil que os personagens dos outros contos com essa temática.
No conto “Eu era mudo e só”, o narrador é um marido entediado e oprimido pelo casamento. Nessa narrativa o título remete à intertextualidade com o poeta português Guerra Junqueiro. No poema citado no conto o eu lírico também está se sentindo só e oprimido como o personagem de Lygia. Transcrevo abaixo a primeira estrofe do poema:

COSMOGÊNESE

Guerra Junqueiro

Eu era mudo e só na rocha de granito.

Por sobre a minha fronte a sombra do infinito,
Em volta a solidão,
Escuridão sem fim:
Negra como o terror, triste como Caim.
A abóbada celeste ameaçadora e bruta,
Tinha o ar concentrado, o ar de quem escuta.
A treva, espião de Deus, imensa, indefinida,
Vinha apagar a luz para espreitar a vida.
Sentia-se um olhar naquelas sombras mudas

Vale notar que o narrador do conto de Lygia não retrata um mundo negro como o do autor português, mas um mundo colorido, em que vive de aparência, o que não o faz feliz.
No último conto do livro, “O menino” um garoto esperto vai ao cinema com sua linda mãe e a trama surpreende o leitor.
Em todos os contos há uma certa tensão e o final enigmático ou surpreendente, que prende a atenção do leitor . Por isso, Antes do baile verde é um grande livro que revela a maestria de Lygia como escritora.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Fla-Flu para ganhar moral

Fiquei feliz com a vitória no Fla-Flu por 3 a 1 mesmo que infelizmente o Flamengo já esteja eliminado da Taça Rio. 
O time jogou bem principalmente no primeiro tempo. Gabriel fez belo lançamento para Léo Moura, que cruzou a bola na cabeça de Hernane, que, preciso, marcou o primeiro gol. Rafinha sofreu pênalti e Renato Abreu cobrou com perfeição marcando o segundo gol. Ramon deu passe para Rafinha e Renato Abreu aproveitou a sobra para fazer o terceiro. No segundo tempo, Sóbis descontou para o Flu.
Foi uma vitória para dar moral ao time e ânimo à Nação. É com a postura apresentada no primeiro tempo do Fla-Flu  que quero ver o Mengão jogando contra o Remo na quarta. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Resenha sobre Barba ensopada de sangue


Acabei de ler o romance Barba ensopada de sangue, do escritor gaúcho Daniel Galera.
O protagonista do romance é um professor de natação que não consegue memorizar rostos e se vai para a cidade de Garopaba investigar a morte do avô e se recuperar da morte do pai. Vive sozinho com a cachorra Beta.
Galera constrói com muita habilidade um romance que discute problemas de identidade, conflitos familiares e a relação do homem com a natureza. Cria uma prosa densa e cheia de descrições do balneário onde o protagonista vive e uma narrativa vigorosa cheia de mistério e aventura que intriga e prende a atenção do leitor. Os diálogos bem construídos são outro ponto forte do romance.
A metáfora do homem que não lembra sequer do próprio rosto é perfeita para definir um personagem que quer reconstruir o passado e a própria vida. As identidades do protagonista e do avô se confundem dando mais mistério e complexidade à narrativa.
Gostei muito de ler esse romance pela prosa vigorosa que situa Galera com um dos melhores escritores e prosadores de sua geração. Foi uma grata surpresa lê-lo e espero que o leitor do meu blog também curta a mais recente narrativa do escritor gaúcho.

A falta que ela me faz: O encontro com Sabino e o prazer de ler



Fernando Sabino é um escritor importante na minha formação como leitora. Na minha adolescência li livros de contos e crônicas do escritor mineiro como A falta que ela me faz e O homem nu. Eles me ajudaram a descobrir o prazer da leitura. A famosa e engraçada história do homem que fica nu na porta do apartamento por uma série de imprevistos na hora de pegar o pão é marcante no meu repertório de leituras.
            Procurei A falta que ela me faz, primeiro livro do escritor mineiro que li, e não o encontrei no escritório de meu pai. Vendo que eu estava triste, minha acompanhante teve a ideia de procurar na minha estante e o encontrou escondido ao lado do romance O encontro marcado.
            Precisando ler textos mais leves e engraçados, reli o livro e vou fazer alguns comentários sobre os temas abordados por Sabino nas narrativas que o compõem.
            Usando muito humor e uma linguagem coloquial, Sabino diverte e surpreende o leitor com as histórias sobre a empregada que gosta de ver TV, o menino que apronta todas com a mãe (no irônico texto “O filho da mãe” ), as pessoas que falam sozinhas, as confusões de um homem que viaja para São Paulo, um assalto cujo fim é inesperado, a falta que faz uma mulher, um gato em Paris, a dificuldade de parar de fumar, problemas de esquecimento e distração, a mulher que quer perder a virgindade, as confusões em um supermercado e muitas outras narrativas extraídas do cotidiano como a divertida “De como me tornei um general”.
            Como todo bom escritor, Sabino também usa a metalinguagem. Fala da língua portuguesa e critica quem usa uma linguagem complicada, faz jogos de palavras. Na crônica “O estranho ofício de escrever”, o escritor mineiro fala da própria atividade de cronista, citando os amigos e especialistas no gênero como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, discute a definição de crônica citando a celebre frase de Mário de Andrade sobre o conto (“conto é aquilo que eu chamar de conto”) e debate a fronteira entre conto e crônica.
            Sabino também trata de objetos que hoje são obsoletos como uma vitrola e uma máquina de escrever elétrica. No segundo caso, escreve uma belíssima crônica “Sob a carícia de meus dedos” ao comparar a maquina nova com que tem dificuldade de lidar a uma mulher em um momento do livro em que o autor vai do cômico ao poético.
            Sabino ainda trata de problemas sociais como os meninos de rua na lúcida e sensível crônica “Protesto tímido”, a falta de dinheiro e a inflação, flagelo que assolava o país na década de 80 quando o livro foi escrito, e infelizmente ameaça voltar a assombrar os brasileiros.
            Foi com esse livro que comecei a ter prazer em ler literatura brasileira e serei eternamente grata a Sabino por poder ler seus textos engraçados e irônicos e que estão me ajudando a me sentir feliz de novo.