Júlia,
professora de literatura, alta, magra é apaixonada pelos escritores do século
XX, especialmente os que renovaram a literatura brasileira na década de 1930.
Como
o personagem de Meia Noite em Paris, Júlia
sonha em encontrar os autores que mais admira. Viaja em uma máquina do tempo e
desembarca na Livraria José Olympio no centro da cidade maravilhosa em 1937 e
dá de cara com Zé Lins, Jorge Amado, Graciliano, Drummond e Bandeira.
Fica
perplexa, escorre uma lágrima dos olhos amendoados, mas tenta se conter:
—
Não é possível! Caramba, consegui! Estou na frente de meus mestres! Respira
fundo, Júlia! O coração parece que vai saltar do peito.
Júlia
toma coragem e se aproxima dos escritores, que conversam animadamente sobre
literatura e política.
—
Com licença, meus mestres. É um prazer conhecê-los.
Os
escritores convidam a professora a se juntar ao grupo e a mulher de cabelo
acobreado treme de emoção.
—
Jorge, adoro seus livros. Mar Morto é
uma obra prima. Jubiabá também.
Amado
agradece e autografa um exemplar da narrativa lírica e trágica de Lívia e Guma
e Graciliano realiza o sonho de Júlia de ter um exemplar do segundo romance do brilhante
escritor alagoano assinado pelo mestre.
Graciliano
fica tímido quando a moça diz:
—
São Bernardo é meu livro de
cabeceira. Magistral o drama de Paulo Honório e Madalena. Sua capacidade de retratar
o psicologismo dos personagens é fantástica. Angústia é espetacular.
—Deixe
de bestagem. Meu terceiro romance tem muitos erros. Mas obrigado por ler meus
livros.
—
Ela tem razão, responde Zé Lins. Você é o nosso Dostoievski.
Júlia
aproveita para elogiar Menino de Engenho,
um primor do memorialismo brasileiro, e diz:
—
Também sou Flamengo, Zé Lins!
Graciliano
torce o nariz e o escritor paraibano comemora:
—
Oxente! Uma senhorita que gosta de futebol. Você tem bom gosto, minha filha.
—
Obrigada, Zé Lins. Nosso time ainda vai conquistar o mundo.
Júlia
se dirige ao poeta magro e tímido.
—
Adoro “Infância” e “Poema de Sete Faces”, Drummond.
— Obrigado,
diz o grande poeta, que encantaria gerações.
—
Bandeira, gosto muito de seu livro Libertinagem.
—
Você é muito gentil, senhorita.
—
Adorei poder conversar com vocês.
—
Foi um prazer, moça bonita, responde Jorge.
Todos
se despedem da professora com cordialidade.
Júlia
dá adeus aos grandes nomes da literatura brasileira, sai da histórica livraria
na famosa Rua do Ouvidor e num passe de mágica está no jardim de sua casa,
cercada por rosas, margaridas e azaleias, se sentindo imensamente feliz por esse
encontro inesquecível.