sábado, 3 de maio de 2014

Resenha de O professor, de Cristovão Tezza (Editora Record)

Em O professor, novo romance de Cristóvão Tezza, Heliseu, um renomado professor de gramática histórica relembra sua vida no dia em que vai receber uma homenagem na universidade em que leciona.
Mas a construção do romance não é a de uma narrativa em primeira pessoa convencional e linear: é em meio às lembranças do professor Heliseu que o leitor vai montando o quebra cabeça da narrativa e reconstruindo a trajetória e a personalidade do protagonista: a relação com o pai austero, a morte da mãe, o casamento com a bancária Mônica, a relação conturbada com o filho Eduardo, o relacionamento com a bela e misteriosa Therèze.
Nesse jogo entre passado e presente, Tezza dialoga com a historia do Brasil  e lança também mão de trechos de um português arcaico dando um sabor diferente ao romance.
Além disso, o tom da narrativa não é confessional  e deixa alguns mistérios na cabeça do leitor: o não dito ganha espaço não só na tese de Theréze, que trata da ironia e do não dito no português falado no Brasil, mas também no próprio discurso de Heliseu. Não me aprofundo nessa questão para não estragar a surpresa do leitor do meu blog.
Com essa linguagem e discurso memorialístico mais complexo, Tezza retoma o tema do conflito entre pai e filho existente em O filho eterno de modo mais cortante e cínico com menos espaço para a tolerância. Se no romance de 2007 há redenção na relação entre o pai e o filho com Síndrome de Down , na narrativa mais recente o conflito em família atravessa gerações, sendo discutidos no livro do escritor tema do homossexualismo e do casamento de uma perspectiva mais opressora.

O jogo da memória e de linguagens tecido por Tezza torna o romance atraente para o leitor que busca ter o prazer de montar a narrativa e ver com novo olhar a história e a língua portuguesa repensando os meandros e os mistérios da língua, do tempo e da natureza humana.

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