terça-feira, 1 de abril de 2014

Nélida Piñon: a voz que narra no escuro

A palestra sobre a criação literária dada pela escritora Nélida Piñon  hoje na ABL e transmitida ao vivo pelo site da Academia foi muito interessante. A escritora carioca fez uma  instigante reflexão sobre a literatura, o trabalho do escritor e questões ligadas à escrita ficcional. O que faz alguém ser escritor? Como se constroem as personagens?
Nélida iniciou a fala ressaltando a importância do escritor (re)pensar seu próprio fazer literário. Nélida tratou da paixão pela literatura ,  pela ''aventura de ler e escrever '' que a fez ser escritora e do desejo que o escritor tem de narrar a vida do outro no meio do caos da vida e da literatura. À primeira vista pode-se considerar estranha essa noção de caos da vida e da literatura. Mas é só pensar em livros de escritores como Clarice, Autran Dourado e Dostoiévski e mesmo Shakespeare e Machado para ver que os grandes livros são os que tiram o leitor do chão, o fazem repensar a vida e o mundo além de causar uma emoção seja ela de riso, dor , raiva ou perplexidade. 
Nélida também  destacou a paixão pela tradição clássica, a importância que a leitura tem na vida do escritor. A autora de Vozes no deserto tocou em  pontos vitais : os clássicos da literatura podem ser lidos por leitores de diferentes épocas e culturas, são universais e  ninguém escreve sem levar em conta a tradição literária.  Cada leitor e escritor dá sua própria contribuição à interpretação do texto literário e cada autor cria uma nova versão da realidade. O jogo fascinante da intertextualidade garante a perenidade da literatura. 
A escritora carioca também tratou da importância do trabalho do escritor com  a linguagem para escapar da banalidade da trama das narrativas e torná-las interessantes e fazendo-as ganhar um caráter literário.  Realmente não vejo graça em ler um livro puramente comercial que não mexa com as convenções da língua e da própria teoria literária e não traga nada de novo .
A construção da personagem foi outra questão abordada por Nélida. É muito interessante a ideia de que um personagem é a soma de traços de várias pessoas, o que também explica a universalidade da literatura.  
É a paixão do leitor- escritor em narrar a vida do outro , reler ativamente a tradição literária, transformar a linguagem para construir um novo mundo povoado por personagens universais e de deixar marcas no mundo que o faz escrever e mantém acesa a chama da literatura.


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