Fernando Sabino é um escritor importante na minha formação
como leitora. Na minha adolescência li livros de contos e crônicas do escritor
mineiro como A falta que ela me faz e
O homem nu. Eles me ajudaram a
descobrir o prazer da leitura. A famosa e engraçada história do homem que fica
nu na porta do apartamento por uma série de imprevistos na hora de pegar o pão
é marcante no meu repertório de leituras.
Procurei A falta que ela me faz, primeiro livro
do escritor mineiro que li, e não o encontrei no escritório de meu pai. Vendo
que eu estava triste, minha acompanhante teve a ideia de procurar na minha
estante e o encontrou escondido ao lado do romance O encontro marcado.
Precisando ler textos mais leves
e engraçados, reli o livro e vou fazer alguns comentários sobre os temas
abordados por Sabino nas narrativas que o compõem.
Usando
muito humor e uma linguagem coloquial, Sabino diverte e surpreende o leitor com
as histórias sobre a empregada que gosta de ver TV, o menino que apronta todas
com a mãe (no irônico texto “O filho da mãe” ), as pessoas que falam sozinhas,
as confusões de um homem que viaja para São Paulo, um assalto cujo fim é
inesperado, a falta que faz uma mulher, um gato em Paris, a dificuldade de
parar de fumar, problemas de esquecimento e distração, a mulher que quer perder
a virgindade, as confusões em um supermercado e muitas outras narrativas
extraídas do cotidiano como a divertida “De como me tornei um general”.
Como todo
bom escritor, Sabino também usa a metalinguagem. Fala da língua portuguesa e critica
quem usa uma linguagem complicada, faz jogos de palavras. Na crônica “O
estranho ofício de escrever”, o escritor mineiro fala da própria atividade de
cronista, citando os amigos e especialistas no gênero como Rubem Braga e Paulo
Mendes Campos, discute a definição de crônica citando a celebre frase de Mário
de Andrade sobre o conto (“conto é aquilo que eu chamar de conto”) e debate a fronteira
entre conto e crônica.
Sabino
também trata de objetos que hoje são obsoletos como uma vitrola e uma máquina
de escrever elétrica. No segundo caso, escreve uma belíssima crônica “Sob a
carícia de meus dedos” ao comparar a maquina nova com que tem dificuldade de
lidar a uma mulher em um momento do livro em que o autor vai do cômico ao poético.
Sabino
ainda trata de problemas sociais como os meninos de rua na lúcida e sensível
crônica “Protesto tímido”, a falta de dinheiro e a inflação, flagelo que
assolava o país na década de 80 quando o livro foi escrito, e infelizmente
ameaça voltar a assombrar os brasileiros.
Foi com
esse livro que comecei a ter prazer em ler literatura brasileira e serei
eternamente grata a Sabino por poder ler seus textos engraçados e irônicos e
que estão me ajudando a me sentir feliz de novo.
Amei o seu texto... Vou enviar para os meus alunos de PLE, pois o projeto final do curso será sobre Fernando Sabino.
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