HCentenário de Jorge Amado: a importância do prazer da leitura na
formação do leitor
Hoje
é o centenário de nascimento de um dos maiores escritores brasileiros do século
XX: Jorge Amado.
A
obra do escritor baiano foi fundamental na minha formação como leitora. Quando
eu ainda era adolescente, autores como Jorge Amado, Fernando Sabino e Zélia
Gattai me mostraram como é bom ler.
Capitães de areia foi um dos primeiros
romances brasileiros que li. Gostei tanto da narrativa ágil e das aventuras de
Pedro Bala e Dora que redescobri o prazer de ler literatura brasileira (antes
preferia ler Agatha Christie) e comecei a me interessar não só por outros
livros do escritor baiano, mas também por outros mestres da literatura como
Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Machado de Assis. Vou comentar
sucintamente alguns romances de Amado que me marcaram e me fizeram descobrir a
Bahia e entender melhor o Brasil.
Gabriela, cravo e canela me encantou
ainda na adolescência com a história de amor de Gabriela e Nacib e o universo
dos coronéis do cacau (também retratado com maestria em Terras do sem fim). Recentemente reli o livro para compará-lo com a
atual adaptação para TV da narrativa amadiana. Agora mais madura, percebi
melhor a importância de figuras femininas como a sensual Gabriela e a
inteligente Malvina no romance. Malvina é um grito pela liberdade feminina em
plena década de 1920, querendo casar por amor, estudar e trabalhar. Gabriela
quer ser livre e viver sem se preocupar com as convenções sociais. Além disso, Mundinho
Falcão representa a modernidade em oposição ao pensamento tradicional e
violento dos coronéis, que acham que podem mandar em tudo e até matar. A
condenação do coronel Jesuíno pelo assassinato da esposa Sinhazinha e seu
amante mostra essa mudança e se enquadra na luta pela liberdade tão marcante na
obra amadiana.
Minha
admiração por Jorge Amado aumentou ainda mais quando li Mar Morto — que hoje considero o melhor romance do autor baiano — e Jubiabá
, já na época em que cursei a faculdade de Letras da PUC. Adorei a
linguagem lírica e sensível com que a história de Guma e Lívia é narrada, sem
falar na discussão de problemas sociais como a falta de investimento em
educação e as condições de trabalho dos pescadores e na força de mulheres tão
diferentes como Lívia e Rosa Palmeirão.
Vi
uma professora da UFBA falar de Jubiabá em
um seminário na PUC e corri para a biblioteca para lê-lo. Valeu a pena. Adorei
a história do negro Antonio Balduíno. É notável que Amado coloque um personagem
negro como protagonista sem vitimizá-lo e ainda descreva com maestria a cidade
de Salvador nesse livro.
O
humor é outra faceta marcante na obra de Jorge Amado e está presente em obras
como nos romances O sumiço da santa, Dona
Flor e seus dois maridos e na aclamada novela A morte e a morte de Quincas Berro d'água. Nessas obras há
elementos fantásticos e nas duas últimas a figura do malandro ganha destaque e
a preocupação social tão característica das narrativas do autor publicadas na
década de 1930 perde força.
É
exatamente o talento para tratar de temas universais como amor e a liberdade e
retratar diferentes personagens — coronéis, meninos de rua, prostitutas,
malandros, professores, moças de família, estivadores, pescadores, pais de
santo — indo do trágico ao cômico — que faz com que Jorge Amado desperte o
prazer de ler em leitores do mundo todo e mostre toda a riqueza da cultura
brasileira.
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