A palestra sobre a criação literária dada pela escritora
Nélida Piñon hoje na ABL e
transmitida ao vivo pelo site da Academia foi muito interessante. A
escritora carioca fez uma instigante reflexão sobre a literatura, o
trabalho do escritor e questões ligadas à escrita ficcional. O que faz alguém
ser escritor? Como se constroem as personagens?
Nélida iniciou a fala
ressaltando a importância do escritor (re)pensar seu próprio fazer literário.
Nélida tratou da paixão pela literatura , pela ''aventura de ler e
escrever '' que a fez ser escritora e do desejo que o escritor tem de narrar a
vida do outro no meio do caos da vida e da literatura. À primeira vista pode-se
considerar estranha essa noção de caos da vida e da literatura. Mas é só pensar
em livros de escritores como Clarice, Autran Dourado e Dostoiévski e
mesmo Shakespeare e Machado para ver que os grandes livros são os que
tiram o leitor do chão, o fazem repensar a vida e o mundo além de causar uma
emoção seja ela de riso, dor , raiva ou perplexidade.
Nélida também
destacou a paixão pela tradição clássica, a importância que a leitura tem
na vida do escritor. A autora de Vozes
no deserto tocou em
pontos vitais : os clássicos da literatura podem ser lidos por leitores
de diferentes épocas e culturas, são universais e ninguém escreve sem
levar em conta a tradição literária. Cada leitor e escritor dá sua
própria contribuição à interpretação do texto literário e cada autor cria uma
nova versão da realidade. O jogo fascinante da intertextualidade garante a
perenidade da literatura.
A escritora carioca também
tratou da importância do trabalho do escritor com a linguagem para
escapar da banalidade da trama das narrativas e torná-las interessantes e
fazendo-as ganhar um caráter literário. Realmente não vejo graça em ler
um livro puramente comercial que não mexa com as convenções da língua e da
própria teoria literária e não traga nada de novo .
A construção da personagem
foi outra questão abordada por Nélida. É muito interessante a ideia de que um
personagem é a soma de traços de várias pessoas, o que também explica a
universalidade da literatura.
É a paixão do leitor-
escritor em narrar a vida do outro , reler ativamente a tradição literária,
transformar a linguagem para construir um novo mundo povoado por personagens
universais e de deixar marcas no mundo que o faz escrever e mantém acesa a
chama da literatura.
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