Em O professor,
novo romance de Cristóvão Tezza, Heliseu, um renomado professor de gramática histórica
relembra sua vida no dia em que vai receber uma homenagem na universidade em
que leciona.
Mas a construção do romance não é a de uma narrativa em
primeira pessoa convencional e linear: é em meio às lembranças do professor
Heliseu que o leitor vai montando o quebra cabeça da narrativa e reconstruindo
a trajetória e a personalidade do protagonista: a relação com o pai austero, a
morte da mãe, o casamento com a bancária Mônica, a relação conturbada com o
filho Eduardo, o relacionamento com a bela e misteriosa Therèze.
Nesse jogo entre passado e presente, Tezza dialoga com a
historia do Brasil e lança também mão de
trechos de um português arcaico dando um sabor diferente ao romance.
Além disso, o tom da narrativa não é confessional e deixa alguns mistérios na cabeça do leitor:
o não dito ganha espaço não só na tese de Theréze, que trata da ironia e do não
dito no português falado no Brasil, mas também no próprio discurso de Heliseu. Não
me aprofundo nessa questão para não estragar a surpresa do leitor do meu blog.
Com essa linguagem e discurso memorialístico mais complexo,
Tezza retoma o tema do conflito entre pai e filho existente em O filho eterno de modo mais cortante e
cínico com menos espaço para a tolerância. Se no romance de 2007 há redenção na
relação entre o pai e o filho com Síndrome de Down , na narrativa mais recente
o conflito em família atravessa gerações, sendo discutidos no livro do escritor
tema do homossexualismo e do casamento de uma perspectiva mais opressora.
O jogo da memória e de linguagens tecido por Tezza torna o
romance atraente para o leitor que busca ter o prazer de montar a narrativa e
ver com novo olhar a história e a língua portuguesa repensando os meandros e os
mistérios da língua, do tempo e da natureza humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário