Hoje, meu padrinho José, que
infelizmente faleceu em fevereiro de 2009, faria 85 anos. Para celebrar seu
nascimento, seu bom humor e ironia e amor ao Mengão, escrevi o texto abaixo:
Comemoração de formatura
Terminei a graduação em Letras (Bacharelado
em Tradução Inglês –Português ) na PUC-Rio no fim de 1999. Minha turma decidiu
que colaríamos grau em cerimônia de formatura na sede do Jockey Club no Centro
e depois cada um iria comemorar com a família e amigos onde quisesse, pois
ficaria muito caro pagar a cerimônia de formatura e uma festa.
A cerimônia foi bonita com nosso
amigo Tonho (falecido precocemente devido a um problema cardíaco) tocando no
violão um poema de Manuel Bandeira,
patrono da turma. Juramos honrar nossa
profissão, homenageamos professores, pais e amigos que nos ajudaram a nos
formar em Letras.
Fiquei muito emocionada e chorei
muito de alegria e emoção (assim como minha mãe), pois realizei meu sonho de
fazer uma faculdade, depois de estudar muito durante quatro anos, fiz muitos amigos, tive ótimos professores. Tinha outra visão de
mundo, aprofundara meus estudos sobre a língua, a literatura e os mistérios e nuances das
palavras , das culturas e da linguagem.
Vesti uma blusa azul e uma saia
creme, que formam logo cobertas pela beca de formatura. Minha mãe usou um
vestido vermelho, que lhe caiu bem com a pele morena. Minha acompanhante e fiel
escudeira Elha estava de branco. O nordestino Tião, paraibano de olhos claros,
o motorista que me levava à PUC-Rio, mesmo envergonhado, também assistiu à
formatura. Meus irmãos e sobrinhos
também compareceram á cerimônia assim como meus padrinhos José e Flor. Lile e Hélio , um casal de amigos de meus
pais e a quem estimo como tios, também
estiveram presentes na formatura e me
presentearam com uma joia.
Fiquei
muito contente com a presença de todos os amigos e familiares nesse dia em que
eu e a turma que concluiu o curso de Letras da PUC-Rio no segundo semestre de 1999 demos um passo importante e decisivo para nossa vida acadêmica e profissional de no caminho escolhido por cada um: a profissão de tradutor/ interprete , revisor
de textos, secretária, professor de português ou inglês ou mesmo pesquisador em
Linguística.
Lembro que cantamos o Hino
Nacional e meu pai nos acompanhou com entusiasmo entoando o hino com sua voz
alta e potente.
Foi tocada uma música em homenagem a cada
formando quando este subia ao palco para receber o canudo . Quando chegou a minha vez, foi tocado o Hino
do Mengão, já que durante todo o curso usei cadernos e canetas do Flamengo e ia para aula , às vezes com o
Manto e ,,mais frequentemente, com camisas com estampas sobre o Flamengo, coloquei na pasta com várias
divisões em que carregava os textos a serem lidos em cada disciplina um adesivo
do urubu. Todo mundo sabia da minha
paixão pelo Flamengo, o que deixou meu tio e padrinho rubro-negro Zé ainda mais
feliz, já que ele e o filho Zé Luiz —
junto com o timaço da década de 80 que contava com craques como Zico, Júnior,
Leandro, Adílio , Nunes e outras feras me levaram a ser uma ovelha rubro-negra
numa casa tricolor. Agradeço muito a meu tio , ao meu primo e ao maior time da
história do Flamengo por terem me levado a amar o Mengão na euforia das
vitórias conquistadas com raça e também nos momentos de crise e tristeza. Ser
Flamengo faz parte da minha identidade e devo essa acertada escolha a eles.
No fim da formatura ,comemoramos
ao som de Fernanda Abreu cantando o lindo samba da União da Ilha È hoje em versão funk : “’É hoje o dia
da alegria e a tristeza /Nem pode pensar em chegar”.
Depois eu, meus pais , meus padrinhos , irmãos e
sobrinhos, Elha, Tião, Tia Lile e Tio Hélio e meu amigo Victor fomos jantar na
Parmê do Largo do Machado.
Assim que entramos no
restaurante, meu padrinho, que usava uma calça com suspensórios, disparou em alto e bom som:
— Ih! Olha ali um “maluco” com a
camisa do Vasco!
Ri muito por dentro ao ouvir a
frase irônica de meu tio.Zé.
Minha madrinha Flor, mulher
sempre elegante, mas vascaína, falou baixinho para o marido :
—Que isso, Zezinho ! O homem
pode ouvir!
Meu padrinho e eu demos de
ombros e continuamos sorrindo com muita cumplicidade. Minha acompanhante Elha,
que também é rubro-negra também riu.
Não me recordo do que cada um
comeu naquele dia no início de 2000, mas me lembro de que comi frango grelhado
com batata frita e sorvete de sobremesa. Naquela época, eu não tinha uma alimentação
mais saudável.
Duas outras frases me marcaram
naquele jantar.
Tio Zé comentou:
— O Flamengo contratou um
sérvio.
Naquele momento , eu e meu
padrinho não poderíamos imaginar que o craque sérvio Petkovic seria fundamental
para a conquista dos Cariocas de 2000 e 2001 e entraria para a história do
Mengão ao marcar golaços de falta na decisão do Campeonato Carioca de 2001
contra o Vasco e da Copa dos Campeões
contra o São Paulo no mesmo ano. Pena que meu padrinho não viu Pet ser o
maestro rubro-negro da conquista do Hexa
Brasileiro em 2009.
Minha madrinha Flor me agradeceu
por essa comemoração íntima em que festejamos uma das grandes vitórias de minha
vida.
— Obrigada por esse momento!
Com os olhos
marejados, pequei na mão de madrinha e disse:
— Eu que agradeço a presença de vocês aqui.
São esses
momentos engraçados que vivi com meu tio e padrinho José que me ajudam a lidar
com a saudade que sinto dele .Afinal , a vida é feita de momentos alegres e
tristes e são as lembranças dos dias felizes e as nossas conquistas e experiências que nos dão força para lidar com as dificuldades da vida . Meu tio Zé permanece
vivo na memória e no coração de todos os que conviveram com o homem brincalhão,
de personalidade forte, culto,
inteligente, elegante, que gostava de bichos , fazenda e tinha casa na
praia , era fanático pelo Mengão e que marcou a vida de amigos e familiares que tiveram o prazer de conviver com ele.
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